domingo, 10 de junho de 2012

Renato Rezende muda local de treinamento para a Argentina e diz que só pensa em medalhas nas Olimpíadas do Rio/2016


Poços de Caldas, MG - O atleta olímpico Renato Rezende visitou Poços de Caldas neste final de semana para rever a família e os amigos. O atleta aproveitou para conversar com a imprensa e convidados em evento realizado ontem no Hotel Monreale. Renato contou como serão seus próximos dias,
os treinamentos, a expectativa para a Olimpíada de Londres e criticou bastante a falta de apoio em Poços de Caldas ao esporte de alto rendimento.
A coletiva foi acompanhada por ex-atletas, empresários, políticos, professores e inúmeros amigos que viram de perto o início de carreira de Renatinho.


Mantiqueira - A conquista da vaga olímpica era uma certeza que você tinha mesmo quando estava muito complicado buscá-la. Agora que você conseguiu, como será esta fase final de preparação até a disputa em Londres, em agosto?
Renato Rezende - Nunca duvidei que conseguiria a classificação e isto ficou claro em todas as entrevistas que fiz ao Mantiqueira, que acompanhou tudo de muito perto. Desde o dia que consegui a confirmação da vaga estou completamente focado nos treinamentos. Não vou estar mais em nenhum campeonato, pois quero chegar a Londres muito bem preparado. Estou indo para a Argentina, para 20 dias de treinamentos, e quero aproveitar o máximo. Lá vou ter contato direto com uma pista de supercross e quero aproveitar a estadia.
Mantiqueira – Por que a mudança de local de treinamentos? Anteriormente você iria treinar na Europa e agora vai para a Argentina. O que aconteceu?
Renatinho - Os pilotos europeus são alguns dos fortes candidatos a medalhas em Londres e por isto eles não quiseram abrir as pistas para eu ir treinar por lá. É um jogo e vence quem tem as melhores armas. Na cabeça deles, se eu não treinar lá, com as condições de treinamentos deles, talvez eu chegue a Londres menos preparado do que poderia chegar se estivesse em território europeu. Não tem problema, meu treinamento continua forte e não vou perder em nada com esta mudança de local de treinamento. Quero lembrar que não foram só os europeus que fecharam as portas. Os Estados Unidos também não quiseram que eu realizasse meus treinamentos por lá.

Mantiqueira - O que você espera em termos de crescimento esportivo disputando as Olimpíadas de Londres?
Renatinho - Espero ganhar uma bagagem muito grande e que me sirva como aprendizado para o resto de minha carreira. Disputar uma Olimpíada é diferente de tudo que consegui até hoje e este clima olímpico está me fazendo muito bem. Chegar numa final, brigar por uma medalha ainda não sei se tenho condições, digo isto com toda sinceridade. Acho que ainda preciso amadurecer um pouco, mas sinto que estou no caminho certo. Porém, preciso melhorar muito minha técnica para encarar as feras de igual para igual. Não estou aqui descartando a esperança de uma medalha, seria maravilhoso, mas estou completamente consciente de que esta medalha pode não vir. Minha briga por medalhas certamente será nas Olimpíadas do Brasil em 2016.

Mantiqueira - Como é ser o primeiro piloto da história do BMX brasileiro a se classificar para uma Olimpíada?
Renatinho - Passou um filme em minha cabeça. Do começo da minha vida no esporte, das dificuldades que enfrentei, sempre ao lado do meu pai, e o sentimento que veio foi o de vitória, de objetivo realizado. Acho que ainda não cai muito na realidade e às vezes não acredito que consegui esta classificação. Foram anos e anos de muita batalha, muito treinamento, muito sofrimento e agora chegou o momento de tirar proveito de tudo que aprendi durante minha vida toda. Acho que só vou cair na real mesmo no dia que chegar a Londres e ver tudo, viver o clima olímpico, conviver com os outros atletas e entrar nas pistas para as competições. Acho que só assim vou conseguir pensar com tranquilidade e dizer para mim mesmo que eu consegui.

Mantiqueira - Falando um pouco de resultados. Quantos pilotos você acha que entram nos jogos de Londres com reais possibilidades de medalhas?
Renatinho - Acho que uns 20. Está muito disputado e muita gente boa surgiu nos últimos anos em todo o mundo.

Mantiqueira - Dentre estes 20, o Renato Rezende está cotado?
Renatinho - Sim. Estou neste pelotão e acredito que posso brigar com este grupo. No Mundial perdi nas quartas-de-final porque cai. Eu estava na quinta colocação, brigando para ultrapassar o quarto e muito perto dos outros competidores. Eu tinha reais condições de chegar com eles se não tivesse caído. São estes pilotos que vão brigar pelo título e por isto acredito que posso chegar também. Ainda enfrento alguma dificuldade na largada, mas está melhorando muito e quero muito chegar à final. Acredito que o favorito é um piloto da Letônia, além de dois norte-americanos que estão muito fortes, mas vou lutar muito para fazer frente a eles e tentar achar meu espaço.

Mantiqueira - A vaga olímpica veio graças ao apoio de Paulínia?
Renatinho - Acredito que se Paulínia não tivesse me ajudado dificilmente eu estaria hoje comemorando a classificação para Londres. Tive tudo que precisava, uma boa estrutura, um grande treinador, uma organização espetacular e uma pista que me deu condições de realizar meus treinamentos com alto rendimento. Sem isto não teria condições de buscar a vaga. O prefeito da cidade está me incentivando muito e com este apoio ao esporte da cidade só tende a crescer cada vez mais.

Mantiqueira - E Poços de Caldas?
Renato Rezende - Já disse antes e volto a repetir. Tenho dó dos meninos que dependerem daqui para treinamento. Eles não têm pista, não têm estrutura, não têm apoio das autoridades, não têm nada. Lastimável. Em Paulínia eu sou professor na escolinha e dou aulas para 120 crianças e tudo é colocado à disposição delas. Bicicletas emprestadas, roupas, capacete, a estrutura excelente. A formação do atleta e do homem é levada muito a sério. Aqui, nem pista eles nos ofereceram. Quando fomos pedir, parecia que éramos mendigos pedindo esmolas e que eles já nos davam muito. Isto não existe. Poços de Caldas tinha condições de oferecer mais, no meu entendimento faltou vontade para isto e eu lamento imensamente que isto aconteça numa cidade tão capacitada quanto esta. Quando fui embora de Poços deixei claro para eles que eu não queria dinheiro, nem nada. Só queria uma pista em condições para treinar e eles não quiseram me dar. Acharam que era muito o que eu estava pedindo. Hoje pela manhã [sábado] passei no parque municipal e me deu vontade chorar quando vi as condições em que a pista está. É triste constatar o descaso, a falta de vontade em fazer um mínimo. Tomara que a mentalidade mude e um dia Poços possa sim ser um polo esportivo. Hoje está longe disto, mas tem todas as condições de ser. Basta que pessoas que realmente gostem do esporte estejam à frente de cargos importantes para que o trabalho apareça. Quem ganha com isto é toda uma cidade.

Mantiqueira - Qual seus planos pós-olimpíada?
Renatinho - Quero subir e subir cada vez mais. Quero disputar mais mundiais, vencer competições e meu principal foco será as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, onde eu acredito ter totais condições de ganhar uma medalha, até mesmo de ouro.

Mantiqueira - Você acredita que se Poços de Caldas oferecer uma boa estrutura, um dia você volta a competir pela cidade?
Renatinho - Acho muito difícil. Tudo em Poços de Caldas precisa melhorar muito e sinceramente não vejo como isto possa acontecer num curto espaço de tempo. Hoje estou muito bem em Paulínia, fui muito bem recebido. São pessoas que levam a sério o esporte, não fazem politicagem com o esporte, querem realmente formar atletas. Temos locais de treinamentos, hotéis, enfim, temos estrutura. Aqui não tem nada. Se um dia tiver uma pista mais ou menos, que é o que estão querendo fazer há dois anos, eu venho dar umas voltinhas de final de semana quando vier visitar meus pais e amigos, mas nada além disso. Quero finalizar agradecendo muito a meus familiares, à prefeitura de Paulínia, ao clube, através de sua presidente Adriana Furlan, ao meu treinador Jorge e a todos os meus patrocinadores.

Mantiqueira - Você está preparado para ser alvo da atenção de todo o Brasil quando estiver na pista em Londres?
Renatinho - Quanto mais torcida, mas gente vendo, mais pressão, mas rápido eu ando.

Nenhum comentário: